sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Fotografia


Foto: Marcelo Justos
                            Fotografia
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Morava numa casa de três cômodos, bem humilde. Com um jardim imenso, colorido que só vendo, com lindas flores, a cada qualidade que desabrochava eu dava nome de pessoas que eu gostava.
Gravava na memória o cheiro e a forma. Havia uma árvore imensa, frondosa onde ao cair da tarde eu ficava tomando a fresca, os pássaros aninhavam-se em seus galhos, lá vinham pardais, andorinhas, periquitos, maritacas, sábias e bem-te-vis e com eles aprendi o canto, as notas musicais e tons de cada um. Sentada a sua sombra, observava carros em alta velocidade, com eles aprendi a identificar cores e marcas.


E a comida da D. Dália, minha mãe, que aroma que delicia, sempre comi primeiro com os olhos, sendo assim ela coloria e enfeitava bastante o meu prato. Meu pai era soverteiro e sobremesa nunca faltava, ele era lindo cheirava limão e a minha mãe a alfazema, Como eu era feliz.

Tinha um desejo distinto, tocar piano, mais os recursos dos meus pais não eram suficientes para duas filhas aprender musica. A minha irmã estudava violão, ela era a mais velha, mas eles asseguraram-me que assim que ela completasse um ano de estudos musicais seria a minha vez... Que alegria eu senti por isso.

Chegou o dia do conserto musical, um ano de curso. Nossa, eu nunca tinha entrado em um teatro, como era lindo, a entrada parecia um palácio, as luminárias, diamantes pendurados e colados um a um, o tapete, vermelho como o batom da minha vizinha, vermelho Ferrari, ainda cheirava a cola...
Começou o concerto, eu chorava de emoção, quando minha irmã entrou no palco, eu gritei o nome dela de orgulho, era o meu sangue, (o meu piano), ela estava linda como uma rosa menina, branquinha como um copo de leite. Identifiquei cada nota musical, cada tom, até um erro do violinista eu percebi, eu havia aprendido direitinho com os pássaros.
Queria que nunca tivesse acabado aquele concerto... Tenho na memória cada momento vivido, únicos de minha infância, Pena que acabou hoje uso todas as lembranças como referencias, no meu dia a dia.

Aquela casa não existe mais. Daquele jardim restaram-me crias do jasmim e da primavera. Continuo a ouvir os pássaros, ouço musica o dia inteiro e toco meu piano. Hoje tenho a Magnólia que cozinha para mim e um sorveteiro que não cheira limão, mas passa todos os dias na rua em que moro.
Minha irmã me visita todos os dias ela cheira rosa menina. O dia do concerto foi a ultima vez que vi o meu limão, a minha dália e minha rosa menina. Só, agora sinto cheiros, apenas.

Eu nunca vi um arco-íris, e sei como é lindo. TV colorida? Eu lembro que meu pai comprou papel celofane degrade e colou na tela, eram muito feias as imagens, sei que as crianças de hoje vêem coisas lindas na tela, vê e ouve tudo o que eu vi e ouvi na minha infância, mas nunca darão o mesmo valor.

É muito bom ter memória fotográfica, mantém um mundo colorido. Agradeço por não ter visto os anjos levando a minha família da porta daquele teatro.
A última coisa que vi nessa vida foi um veículo que não pude saber a marca, amarelo canário desgovernado, conduzido por alguém que não tinha gosto e amor  invadindo a calçada.

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